2006-12-07

TLEBS

A terminologia linguística para os ensinos básico e secundário é o tema da polémica em curso.
Cheira-me, à luz da experiência, que também esta é uma polémica inútil. Seja, vai ficar tudo na mesma como se não tivesse existido qualquer polémica. Mas é, apenas um feeling (feeling? esta não está, espero, na TLEBS) fruto, talvez, do meu reconhecido mau feitio.
Seja como for, não quero entrar na polémica. No meu tempo havia orações que foram, naquela época, capazes de matar qualquer hipótese de amor da generalidade dos estudantes pela literatura portuguesa. Sem conhecer (o que conheço – dos jornais – é suficiente para me convencar que se trata de coisa com que não quero lidar), aposto que a TLEBS não conseguirá fazer pior.
O problema não é a TLEBS. O problema é um sistema de ensino que ninguém – a não ser alguns dos que dele vivem – compreende ou respeita.
Veja-se o exemplo de uma amiga, mãe de uma criança de dez anos a frequentar o quinto ano de escolaridade:
Ontem a criança apareceu espavorida em casa, dizendo que a professora exigia que hoje chegasse à escola com um livro de receitas tirado da internet.
Parece que o exercício tinha por objectivo exercitar as competências de pesquisa online, transferência e impressão de ficheiros, incluindo fotografias, formatação de textos, com negritos, sublinhados e mais não sei o quê.
Resultado, para aplacar o stress em que a filha notoriamente vive , chegada a casa tarde e más horas (é verdade, há funcionários públicos que trabalham, sem remuneração, muitas horas extraordinárias) a minha amiga decidiu ajudar e, passada a meia-noite, lá estava o livro de receitas tirado da internet concluído.
Levantar cedo, preparar a filha para apanhar a carrinha do colégio (sim, Sr. Prof. Mário Pinto. Trata-se de um colégio privado), até que, na hora do beijo à porta, a criança dispara: Mãe! Não temos bebidas!
Enquanto a filha descia com o pai, a minha amiga fez mais uma correria para o computador, pesquisou, encontrou e imprimiu uma sangria e desceu, sempre a correr, ainda em pijama e meias, até à carrinha que já esperava.
Pergunta simples de um ignorante destas coisas: Não bastaria pedir-se uma receita a cada aluno e juntar tudo, devidamente corrigido na sala de aula, para formar um livro de receitas da turma?

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