2008-03-30

Route 66 - Notas de viagem XI

16-6-2007 – 5.º Dia na estrada
Como sempre, às oito horas da manhã estavamos sentados no Nissan X Terra, prontos para iniciar o shigtseeing tour de Grants e retomar o caminho do Oeste pela I40.
O semi-deserto do Novo México continua a desfilar à nossa volta, a espaços cortado por um comboio de mercadorias, os vagões de contentores recortando-se na paisagem como ameias de um castelo medieval.


Junto a um lugar insignificante chamado Coolidge, uma breve paragem para documentar o Continental Divide. Nada de extraordinário, para além da placa explicativa e a surpresa de nos descobrir-mos a uma altitude superior à da serra da Estrela, num lugar onde a imensidão da planície me não nos permite a percepção de altitude (falta-nos o mar), o que temos é, de um lado da estrada umas construções abandonadas, do outro lado um café rasca com uma loja de recordações anexa.

Atravessamos a fronteira dos Estados e entramos no Arizona para, cerca das dez horas, como programado, abandonar a I40 na saída 111 e visitar o Petrified Forest National Park, sob um sol abrasador de quase quarenta graus.



Almoçámos em Holbrook, de onde trouxemos uma belíssima recordação de viagem: o livro “Holbrook and the Petrified Forest”. À medida que nos aproximamos de Flagstaff o deserto começa a perder terreno. Quando os pinheiros, finalmente, dominam a paisagem, estamos na cidade mais cosmopolita que encontramos desde Chicago. Uma downtown de pedra, arquitectonicamente muito interessante e dezenas de cafés, pubs, restaurantes e lojas e imensa gente na rua.
Alojámo-nos, como de costume no Super 8 Motel, desta vez numa gigantesca suite com kitchnet totalmente equipada (que não usámos) e 3 Queen Beds, numa área de cerca de cinquenta metros quadrados, tudo por menos de vinte dólares por cabeça e por noite.
Jantámos num restaurante italiano. Um verdadeiro e excelente restaurante italiano, este “Pasto” que não anda longe de cumprir o seu objectivo de fornecer aos clientes a mais fina experiência gastronómica do norte do Arizona. As excelentes salas, decoradas com gosto e moderação, o simpático pátio onde comemos, o aparelhamento das mesas, a apresentação e a qualidade dos pratos, a extensão e variedade da lista de vinhos e o serviço discreto, simpático e eficiente, tudo completado por uma loja gourmet anexa, também de excecelente aspecto, fazem do PASTO um bom restaurante em qualquer parte no mundo. Escusado será dizer que foi a refeição mais cara da viagem. Mas nada que se não pague em Lisboa à minima distracção e por menos qualidade.

À noite arrefece. Que bom.

2008-03-17

Route 66 - Notas de Viagem X

15-6-2007 - 4.º dia na estrada (2ª parte)

Sant Fé, The City Different é, hoje em dia, um dos destinos turísticos mais frequentado dos Estados Unidos. Tem tudo para isso: Uma história - maior do que o país - que vem desde o Séc.XVI, o título da UNESCO de Creative City of Folk Art, Crafts & Design e a espectacular arquitectura de adobe que a distingue de todas as demais e é cuidadosamente preservada e glosada nas novas construções.
O centro de Santa Fé é a Plaza, dominada pelo Palácio dos Governadores, o edíficio público mais antigo da América, ao longo de quatro séculos sede de poder de três soberanias diferentes: espanhola, mexicana e americana. Hoje é um museu e sob o seu enorme alpendre abrigam-se, dos inclementes 38º C, dezenas de índios vendendo os seus artesanatos. Um pedaço da tarde não dá para mais do que chegar, observar o bulício de turistas, espreitar as lojas, passear um pouco, entrar na Catedral Basílica de São Francisco de Assis e comprar um folheto que nos fala da primeira índia declarada santa pela Igreja Católica e parar por uns instantes a observar a sua estátua.
Descemos para Albuquerque pelo percurso chamado The Turqoise Trail (NM14), uma National Scenic Byway, numa região de antigas minas de turquesas. A idéia era ter ainda algum tempo para dar uma vista de olhos por Albuquerque que, segundo as informações que levávamos, tem um núcleo urbano antigo que a merece. As Sandia Mountains começaram, no entanto, a impor-se à nossa vista, pelo que decidimos subir até ao Sandia Peak. Ninguém ficou arrependido que não é todos os dias que podemos chegar a mais de três mil metros e disfrutar uma vista soberba, até ao horizonte, sobre a planície do Novo México.

Ficou Albuquerque por ver que, dali até Grants, eram mais cento e muitos quilómetros. Não me lembro onde nem o que jantámos. Mas lembro-me deste céu extraordinário ao pôr do sol:


Grants, já o sabia, não tinha, para nós, nada de especial a ver. É, apenas, uma típica cidade americana destas bandas: 30 motéis, bombas de gasolina, restaurantes, campo de golfe, 9.000 habitantes e (diz o respectivo site) vinte e oito igrejas de muitas confissões. De qualquer modo, eram horas de dormir. E foi para dormir que Grants entrou no nosso plano de viagem.

2008-03-11

Route 66 - Notas de viagem IX

15-6-2007 - 4.º dia na estrada
Levantámo-nos à hora marcada e, banho tomado e malas feitas e colocadas no carro estacionado à porta do quarto, fomos ao pequeno-almoço que neste Motel começam a servir às quatro da manhã.
A caminho da farmácia aproveitamos para dar uma breve vista de olhos pela cidade (breve, porque o tempo é curto e estas cidades oferecem-se aos olhos dos visitantes todas muito iguais), dando especial atenção aos edifícios mais antigos e aos murais que, a par dos néons no Route 66 Boulevard, são a marca local e cujo mapa, recolhido na net, já ía de Lisboa.
Tucumcari, como Cuba, MO, reclamam-se do título de The Mural City, precisamente pela quantidade e dimensões dessa forma americana de expressão que são as paredes pintadas, em geral em tom realista e com apreciável qualidade artística, com cenas que relatam momentos ou aspectos importantes da história e vida locais, como se fossem pranchas de banda desenhada, do mesmo evidente intento pedagógico das pinturas das igrejas medievais europeias que, através de sucessivos quadros, contavam aos crentes analfabetos as histórias da Bíblia e dos Santos.


Feito isto e uma paragem no Visitors Information Center local, antes das dez horas estávamos em plena estrada a caminho de Santa Rosa que, já vos disse, é uma gigantesca bomba de gasolina no deserto. Mas um deserto não é um vazio. Está cheio de coisas e de vida, como esta tartaruga que nos surpreendeu durante uma breve paragem na beira da estrada.


Mais uma paragem, num retiro para camionistas, deu para esticar as pernas, comer uma sandes e mirar e fotografar de perto um dos típicos camiões americanos.


O objectivo, conseguido, era terminar a meia jornada da manhã a almoçar no Bobcat Bite, em Santa Fé. Eis mais um lugar que bem merece a estrela que lhe atribui o Route 66 Dining & Lodging Guide.

2008-03-09

Route 66 - Notas de viagem VIII


14-6-2007 - 3.º dia na estrada

Ontem andamos às voltas em Oklahoma City e anteontem andámos de carro uns míseros 185 km. São, pois, dias de que não se pode dizer que tenham sido na estrada. Hoje sim. Mais de 600 (que acabam por ser quase setecentos) quilómetros haviam de levar-nos até Tucumcari, já no Novo México, com breve atravessamento do Texas.
As paragens planeadas incluiam Clinton e Elk City, ainda no Oklahoma e McLean e Amarillo no Texas.
Em Clinton, cidadezinha com menos de 10 mil habitantes (menos de 30.000 no County) que, pomposamente, se intitula Hub City of Western Oklahoma, há coisas que são vulgares na América mas a que não estamos habituados: Há uma Câmara de Comércio que suporta o site a partir do qual se pode aceder a quase tudo o que interessa na cidade. Pode-se requerer na internet uma licença de construção. Há mais de vinte igrejas pertencentes a mais de uma dúzia de confissões diferentes, incluindo a católica e há o Oklahoma Route 66 Museum. Este era o objectivo da paragem e a expectativa não foi defraudada. Carros e bombas de gasolina antigas, objectos diversos, muitas fotografias, mapas gráficos e textos explicativos e um video no pequeno auditório, informam-nos sobre a história da epopeia que foi a construção da rua principal da América.
Elk City e McLean não deixaram recordações que aqui possa registar, ía eu a escrever. Nestas alturas o melhor – que a memória não chega para tudo -, é rever os apontamentos e as fotos. E lá estão:
Em Elk City, num complexo impecavelmente tratado, todos os edifícios que recordam os primórdios do território do Oklahoma. Um museu ao ar livre. Uma cidade de cowboys como as conhecemos do cinema, não fora agora estar tudo arrumado, limpo, relvado.
McLean tem, além do museu do arame farpado que não vimos e da primeira bomba de gasolina construída no Texas pela Phillips 66, o Red River Steak House, onde almoçamos bem num lugar preservado acompanhados de um grupo de motards. Ainda antes, mal acabados de entrar no Texas, paramos em mais um Tourist Information Center que deveria fazer corar os que em Portugal tratam de turismo: espaçoso, acolhedor, toneladas de informação gratuita à disposição dos viajantes. Pela informação recolhida e porque uma pequena volta por Amarillo não os nos convenceu a ficar mais tempo e porque no Texas o relógio atrasou uma hora, decidimos que tínhamos tempo de sobra e resolvemos descer cerca de 30 quilómetros para um auto-tour pelo Palo Duro Canyon (Texas State Park). Saímos de lá já ao anoitecer, mas valeu bem a pena e deu para ver que também na gestão de parques naturais temos ainda muito para aprender. E para participar. Uma boa parte do trabalho é, ali, feito por voluntários.
Regressámos a Amarillo e retomamos a I40 para mais cerca de 200 km.
Da estrada vislubramos o Cadillac Ranch, ícone da pop art mas a paragem foi em Adrian, The Midpoint of Route 66. A acreditar no cartaz, 1139 milhas separavam-nos de Chicago e outras tantas de Los Angeles. O café estava fechado com o aviso de que abria e fechava quando dava na telha ao proprietário.
Na fronteira do Novo México fizémos uma breve saída da estrada para circular pela pequena e agora cidade fantasma de Glenrio, onde o único sinal de vida era uma estação de serviço constuída 100 metros ao lado de uma outra abandonada.
Chegámos a Tucumcari noite escura onde, após um jantar de que já falei a propósito de mosquitos, nos esperavam (por 22 dólares a cada um) camas confortáveis das quais, no dia seguinte pelas 7H00, teríamos de saltar para mais uma jornada comprida.


Notícias


Route 66 – Notas de viagem VII

Tirando alguns jornais gratuitos (o Metro é igual mas vem agrafado como uma revista. Cada número do Village Voice tem mais anúncios de serviços sexuais que uma semana inteira de Diário de Notícias e também com muitas – as mesmas – fotografias coloridas) que os americanos têm numas caixas metálicas perfiladas na borda do passeio – os pagos também estão em caixas idênticas, alinhadas na mesma correnteza, mas que só abrem contra a introdução das necessárias moedas – a nossa relação com a comunicação social resumiu-se ao automatismo de ligar a televisão nos quartos dos hotéis. Partimos cheios de vontade de ouvir música nas longas horas de viagem e fomos carregados com uma caixa de CD’s. A verdade é que ouvimos um e as rádios não foram suficientemente apelativas para que nos calássemos a ouvi-las. A paisagem lenta. O olha! viste? A atenção às pequenas coisas que iam desfilando perante os nossos olhos ávidos. Um road runner fugidio tal como o seu irmão Bip Bip dos desenhos animados. Aqueles ratos que ficam de pé a mirar atentos em redor. E nós, como eles, com vontade de ver tudo, sobrepuseram-se a qualquer desejo de informação mediada.
Ficou, pois, só a televisão. Lá, como cá: Novelas e telenovelas. Novelas para hispãnicos onde só há hispãnicos. Soap operas com famílias negras. Novelas, telenovelas e soap operas com histórias de brancos e intérpetres brancos. Directos de desgraças. O Weather Channel que também prefere as trovoadas ao bom tempo e tem diariamente de inventar modo de encher 24 horas. E a CNN.
Desgosto. Espanto. Incredulidade. Eu que estava convencido que a CNN era o rigor em forma de ecran, colmeia de reporteres oportunos, corajosos e objectivos dou com quê? Com a TVI em inglês.
A Paris Hilton que é uma espécie de Cinha Jardim lá do sítio, mas mais rica, mais nova e, tenho de o reconhecer, mais feia, tinha-se deixado prender já nem me lembra bem porquê.
Vai daí, uma pessoa levantava-se, ligava o aparelho e lá estava na CNN: reportagem de exterior, a menina a entrar na prisão, a menina a sair da prisão, depoimentos de advogados, de celebridades várias, do motorista e do jardineiro e do jardineiro que nada sabia do assunto e só estava a jardinar quando a Paris por alí passou. Chegava-se ao hotel há noite e imaginava-se que todo o dia teria sido assim. Mais directos, mais entrevistas a quem nada tinha a dizer sobre o assunto, mais depoimentos com ar sério como se de coisa séria se tratasse, debates em estúdio.
Terminou tudo, como sabemos, no Larry King.
Vista na América, a CNN parece-se estranhamente com a TVI.