2004-02-27

Segurex

A segurança pessoal quer-se secreta, como pretende PSL? discreta como sugeriram alguns membros do seu partido? ou ostensiva, como ostensivos são os profissionais dela?
Na verdade, a segurança pessoal é sempre ostensiva, como bem o sabem todos os cinéfilos e espectadores de telejornais.
A lógica da ostentação tem a ver com o seu carácter dissuasor.
Admitindo que há razões válidas que levem a julgar credíveis as ameaças que, pelos vistos, foram feitas a PSL, custando, embora, acreditar que tais ameaças tenham razões políticas ou institucionais, é da natureza da segurança pessoal a exibição pública da sua presença. Desde logo, só pode haver segurança pessoal se houver uma grande proximidade física entre o objecto da segurança e os agentes desta, ora, no caso, essa proximidade não pode deixar de ser notada. Todos nos habituámos a ver o playboy PSL acompanhado de mulheres. Agora, se anda acompanhado de homens, toda a gente vai notar. Os que têm vista, porque um matulão de cabelo à escovinha, fato e óculos escuros (ainda que sem auricular), armado em sombra de PSL, não pode deixar de ser notado. Os cegos, porque o perfume não será (espera-se) o mesmo das companhias costumeiras.
Qual é, então, a perturbação de PSL?
Só podem ser dúvidas sobre a necessidade e, ou, os procedimentos. Tivéssemos nós serviços de informações a funcionar regularmente, com uma comissão de acompanhamento e fiscalização a funcionar regularmente e, certamente, descansaríamos todos e não teríamos dúvidas sobre as necessidades de segurança de PSL.
A telenovela que, nos últimos tempos foi, e ainda é, esta área da governança é que pode fazer perigar a segurança de PSL e de muitos de nós.
Mas descanse, meu caro e involuntário presidente. Do meu ponto de vista ninguém lhe quer fazer mal.
Porque os eleitores de Lisboa zangam-se com quem faz mal mas nunca com quem faz nada.
Porque, que a gente saiba, você não tem negócios mafiosos.
Porque, a acreditar nas revistas cor de rosa, a idade já lhe vai pesando, não se vendo marido, namorado, pai ou irmão que tenha razões recentes para lhe bater.
Eu, se fosse a sí, dispensava a segurança e mais umas quantas manias de grandeza.

2004-02-18

Alcobaça

Deparei hoje, por mero acaso (ou antes, na sequência de uma regular busca na Net para saber como vai lidando Alcobaça com as exigências do nosso tempo e, na secreta esperança de um dia verificar que, afinal, a Câmara Municipal de Alcobaça não é a última a ter um site), com o maisalcobaça (http://www.maisalcobaca.blogspot.com/).
É cedo para críticas ou, sequer, opiniões. Mas já há duas ou três coisas que merecem reflexão:
a) Não vale a pena começar já a debitar opiniões sobre se Alcobaça está bem ou mal governada. Eu, pessoalmente, não tenho dúvidas de que está mal governada. Mas, isso é coisa para ser demonstrada a seu tempo com exposição de factos, números e idéias. A minha proposta é: não extrememos posições, apresentemos razões. Será o maisalcobaça o lugar onde posso dar a minha contribuição?
Uma pista de reflexão: DR, I Série B, nº 40, de 17-2-2004, Resolução do Conselho de Ministros n.º 11/2004 que inclue Alcobaça no mapa "Portugal menos favorecido"
b) A desconfiança sobre quem está por "detrás" do blog pode fazer sentido. Há inconveniente na identificação?
Eu, por mim identifico-me já: José Quitério (há colaboração dispersa nos semanários locais) e opiniões em http://www.blogspot.fadomaior.com
email: jose_quiterio@hotmail.com.
c) Não é claro, no manifesto, de que Alcobaça falamos: A sede do concelho ou o concelho? A coisa parece-me importante até porque se é para tratar exclusivamente dos problemas citadinos não estou interessado por aí além. Sou um serrano da Ataíja de Cima e já não tenho paciência para centralismos da treta. Conheço um texto impresso em que se defende que o presidente da Câmara devia ser um alcobacense de Alcobaça. Ora, para tal peditório eu não dou.
Se é para discutir o concelho, digam.
José Quitério

2004-02-13

Compromisso Portugal II

Abre um homem o site do Compromisso Portugal (http://www.compromissoportugal.com/pontosfortes.shtml) e depara com esta pérola:

“Fazei a apoteose dos vencedores, seja qual for o sentido, basta que sejam vencedores”.
“Gritai nas razões das vossas existências que tendes direito a uma pátria civilizada”.
- escreveu em Lisboa, Dezembro de 1917 , Almada Negreiros no seu “Ultimatum Futurista” e exprime a síntese daquilo que pretendemos incentivar nesta rubrica do nosso site.”

A esta hora o Almada estará a rebolar a rir, lá no Céu dos Grandes onde se encontra e onde mantém, certamente, o humor acutilante com que zurziu todos os Dantas deste mundo, incluindo os que só o conhecem do ZIP-ZIP, ou nem daí.

A minha proposta é, pois, que comecemos a desenvolver a economia portuguesa pelo sector editorial:

Um exemplar do “Ultimatum Futurista” para cada português! Já!
Devidamente acompanhado, está claro, de dois prefácios: um do Vasco Graça Moura e outro do Eduardo Prado Coelho, explicativos, ambos, do que se vê hoje olhando para o “Ultimatum Futurista” (dos lados direito e esquerdo, respectivamente).

ULTIMATUM
FUTURISTA
ÀS GERAÇÕES PORTUGUESAS DO SÉC. XXI
Acabemos com este maelstrom de chá morno!
Mandem descascar batatas simbólicas a quem disser que não há tempo para a criação!
Transformem em bonecos de palha todos os pessimistas e desiludidos!
Despejem caixotes de lixo à porta dos que sofrem da impotência de criar!
Rejeitem o sentimento de insuficiência da nossa época!
Cultivem o amor do perigo, o hábito da energia e da ousadia!
Virem contra a parede todos os alcoviteiros e invejosos do dinamismo!
Declarem guerra aos rotineiros e aos cultores do hipnotismo!
Livrem-se da choldra provinciana e da safardanagem intelectual!
Defendam a fé da profissão contra atmosferas de tédio ou qualquer resignação!
Façam com que educar não signifique burocratizar!
Sujeitem a operação cirúrgica todos os reumatismos espirituais!
Mandem para a sucata todas as ideias e opiniões fixas!
Mostrem que a geração portuguesa do século XXI dispõe de toda a força criadora e construtiva!
Atirem-se independentes prá sublime brutalidade da vida!
Dispensem todas as teorias passadistas!
Criem o espírito de aventura e matem todos os sentimentos passivos!
Desencadeiem uma guerra sem tréguas contra todos os "botas de elástico"!
Coloquem as vossas vidas sob a influência de astros divertidos!
Desafiem e desrespeitem todos os astros sérios deste mundo!
Incendeiem os vossos cérebros com um projecto futurista!
Criem a vossa experiência e sereis os maiores!
Morram todos os derrotismos! Morram! PIM!
J o s é d e A l m a d a N e g r e i r o s
P O E T A
F U T U R I S T A
E
T U D O

E com sito ficam arranjados mais dois problemas para a Pátria resolver (sem falar, claro, da hipóteses de os dois ilustres publicistas acima mencionados não quererem fazer os prefácios, caso em que ficaríamos com quatro problemas).
Mas não nos antecipemos.
Por agora os problemas são dois:
a) Parece que há mais do que um Ultimato Futurista.
b) O Futurismo não era, propriamente, uma ideia democrática (ou será que isto não é um problema?)

2004-02-11

Compromisso Portugal

Vocês já repararam na imensa quantidade de textos que, tendo como objectivo comum a salvação da Pátria, foram produzidos nos últimos tempos pela classe empresarial portuguesa?
Porque é que esta gente não se dedica, antes, a modernizar as suas empresas?

Compromisso Portugal

Faltava mais esta. Ao extenso rol de candidatos a salvadores da Pátria, acrescentaram-se agora, de uma vez, seiscentos (seiscentos) empresários, gestores e universitários, todos juntos no Convento do Beato, ouvindo embevecidos esse d. sebastião económico da direita que dá pelo nome de António Borges, cujo invejável currículo se resume assim: director de uma escola em França, presidente de uma assembleia municipal eleito pelo PSD, vice-presidente de uma multinacional cujo “Nosso objetivo é fornecer retornos superiores a nossos accionistas” (tal como consta no respectivo site – tradução automática, pelo Google, do inglês), seja, uma multinacional que se está borrifando, muito de alto, para Portugal, para os portugueses, para os trabalhadores em geral e para os trabalhadores portugueses em particular.
O Sr. António Borges quer salvar Portugal mas nunca dirigiu uma empresa, nunca produziu um prego ou uma couve que fosse. Não. O seu negócio é dinheiro. Quanto mais dinheiro puder dar aos seus accionistas melhor para si. Se isso exigir o despedimento de metade de Portugal, tanto faz. Se isso exigir levar à falência metade dos empresários que o aplaudiram no Convento do Beato e o vão aplaudir nos próximos dias, um pouco por todo o país, tanto faz. Eles não são accionista da Goldman Sachs. Não é para eles que o Prof. tem de arranjar “retornos superiores”. Compromisso Portugal? É mentira. O compromisso do Prof. António Borges é com os accionistas da Goldman Sachs.

2004-02-03

Funcionários

Um funcionário público é, no imaginário do comum dos portugueses, um poltrão incompetente que não faz nem sabe.
Sempre assim foi e sempre assim será mas, há momentos, como o que agora vivemos, em que a coisa toma uma dimensão insuportável. É quando a sociedade inteira, Governo incluído, resolve fazer dos funcionários públicos o bode expiatório de todas as desgraças.
Curioso é que, para toda a gente, funcionários públicos são os outros.
Curioso é que, quando tentamos esmiuçar a coisa, ninguém é funcionário público.
Os governantes são governantes, apesar de lhes caber a eles, em primeira linha, defender a res pública, os militares são militares, os magistrados são magistrados (a Dr.ª M.ª José Morgado disse mesmo, recentemente, (cito de cor) que havia muitos magistrados a agir como funcionários públicos), os enfermeiros e médicos são enfermeiros e médicos, os professores são, naturalmente, professores, os engenheiros são engenheiros, os informáticos só sabem de informática, os investigadores investigam, os conservadores e guardas de museu dedicam a vida à Arte e a meninas da Loja do Cidadão são umas simpáticas meninas que nos atendem na Loja do Cidadão.
Estou mesmo convencido que também o tratador de cavalos da Coudelaria de Alter acha que não tem nada a ver com o assunto. Que é apenas tratador de cavalos. Isso permite-lhe, também a ele, zurzir sem dó nem piedade nos funcionários públicos.
Seria bom que alguém tentasse pôr ordem nisto.
E respondesse a esta questão simples:
De que falamos quando falamos de funcionários públicos?

Pitágoras? Conheço bem, mas não sei como se chama

Aqui há uns anos, quando andava a fazer uma casa, vi o Sr. Almerindo, mestre de obras, a marcar os alicerces.
A coisa faz-se espetando umas estacas sobre as quais se fixam umas tábuas na horizontal, onde se esticam cordéis que vão definir, com rigor, o lugar dos alicerces.
Pois o Sr. Almerindo, esticado o cordel que definia a parede mais longa e assinalado com um prego cravado na dita tábua, o local exacto do cunhal, esticou o cordel por mais 80 cm meticulosamente medidos e cravou novo prego. A partir daí e para a esquerda baixa do lado oposto àquele para onde se devia desenvolver a segunda parede que havia de fazer com a primeira um ângulo de 90º, com os mesmos modos rigorosos mediu um metro e, com o lápis, traçou um arco de circunferência na perpendicular do primeiro prego. Foi-se, de seguida ao prego cravado no lugar exacto do cunhal e, para o lado onde tinha traçado o primeiro arco, com o mesmo método mediu 60 cm e traçou, a lápis, novo arco que se foi cruzar com aquele outro que antes tinha feito.
Aí, no exacto ponto de encontro de ambos os arcos, cravou novo prego.
Passou o cordel pelos três pregos e esticou-o até ao comprimento da nova parede.
Ah! Com que então o Sr. Almerindo conhece o teorema de Pitágoras!
Não Sr. Dr. Nada disso. Isto é assim: 3 para aqui, 4 para ali, 5 para acolá e temos um ângulo recto. Se em vez de 3, 4, 5 usarmos 6, 8, 10, ou 9, 12, 15 e por aí afora, também dá.

Túneis

À acusação de que o túnel das Amoreiras estaria a ser construído ilegalmente por inexistência de estudos e projectos obrigatórios, PSL reagiu alegando que também os seus antecessores cometeram o mesmo pecado.
Ora, tal silogismo apenas pode ter uma conclusão: A de que, de futuro, todos os túneis podem ser feitos sem os estudos e projectos legalmente obrigatórios.
Esta conclusão é, obviamente, inadmissível, como qualquer um entende.
Os limites da lógica escolástica são conhecidos, relevam, frequentemente, do mero bom senso e eram, antigamente, exemplificados no manual de Filosofia do 7º ano do Liceu com o silogismo do cão: A constelação é cão. O cão ladra. Logo, a constelação ladra.
Não deixa, por isso, de ser impressionante que este tipo de argumentação primária e absoleta domine o discurso “político” e, mais grave, que de seguida e de salto se passe para o discurso moralista e sensório, segundo o qual quem antes pecou não pode apontar a outrem o mesmo pecado.
É evidente que este círculo vicioso é o alimento da impunidade geral e tem que ser rompido.
Como fez o Zé Tita quando encontrou o irmão a bater na mãe:
Pegou num cacete e partiu-lhe um braço. A mãe também batia na avó, dizia o outro no intervalo dos gemidos de dor. Pois. Mas essa cadeia tem de ser quebrada. E é agora!