2003-10-29

Acordeão, violino e trompa

A inefável cidade de Alcobaça (não confundir com o concelho do mesmo nome) esteve recentemente envolvida em mais uma polémica, não diria estéril mas, certamente, lamentável. Desta vez foi música. E qual a razão da polémica? Pois, tanto quando dá para perceber, o caso é que alguns melómanos da ilustre cidade pensam que o seu instrumento é melhor que o dos outros e, daí, que tem direito a mais subsídio público.
Não é novidade. Nem o apetite pelo subsídio, nem as zangas entre músicos. Lembro-me mesmo de ter lido algures que, numa terrinha deste santo Portugal, havia duas bandas filarmónicas. Resultado: Escolhiam, meticulosamente, sair à rua no mesmo dia e a coisa acabava, invariavelmente, num arraial de porrada.
Ora, não me parece que a porrada seja solução e, como acredito que os polemistas - que, aliás não conheço - são pessoas civilizadas, interessadas no progresso, designadamente cultural, da sua terra, como acredito nisso e o Sr. Director do REGIÃO DE CISTER, pôs termo à dita polémica que já lhe vinha ocupando (inutilmente, digo eu) muitas páginas do jornal, permito-me, acalmados os ardores da refrega, sugerir uma alternativa:
Que cada um, de acordo com os seus gostos e competências, comece desde já a ajudar na preparação do seu festival favorito do próximo ano, seja ele o Cistermúsica, seja a Semana Internacional de Acordeão.
Que ambos os festivais sejam programados de modo a poderem chegar ao maior número possível de munícipes, com concertos desconcentrados no maior número de localidades possível.
Sugiro, mesmo, que averiguem as condições do Salão Cultural Ataíjense e, se possível, para aí programem concertos, (no que terão, certamente, todo o apoio da respectiva direcção). Pelo menos dois: um do Cistermúsica e outro da Semana Internacional de Acordeão.
Mais me permito sugerir que, os mesmos ou alguém comece, desde já, a programar um terceiro festival de música: O Festival de Música das Bandas de Alcobaça, onde participem todas as bandas filarmónicas existentes no Concelho.
E não se esqueçam! Tentem que possa haver concertos por todo o concelho. Um deles pode ser na Ataíja de Cima.

2003-10-25

Portugal

Terra desgraçada.
Terra minúscula.
Tão pequena que nela não cabem duas conversas ao mesmo tempo.

O ladrão e o marialva

Manuel Maria Carrilho publicou no Diário de Notícias uma carta aberta aos socialistas onde disse com clareza aquilo que já muitos e não apenas militantes do PS, vinham a dizer, fosse em escritos de opinion makers diversos, fosse em surdina ou conversas informais entre militantes do PS.

O homem disse e acontece esta coisa espantosa (ou nem por isso): Todos se viram contra ele. Uns porque falou tarde, outros porque mais valia estar calado.

É assim a vida. Como descobriu o PGR num raro rasgo de lucidez, os comentários (as opiniões) são perigosos.

Mas o caso do Manuel Maria Carrilho é mais grave. Não se trata, apenas do drama português de ser preso por ter cão e por o não ter, nem, sequer, desse silogismo político-jornalistíco segundo o qual a conclusão lógica da crítica é o oferecimento para a substituição do criticado.

O caso é, meu caro Manuel Maria Carrilho, que você não tem hipótese na política portuguesa.

A malta odeia-o.
Esse nobre sentimento da inveja obnublia-os a todos.
O que é que você queria?
Roubou a miúda gira.
Queria que estes marialvas retardados ficassem contentes?

2003-10-17

Manifesto contra o trabalho

Um dos últimos livros que li e sobre o qual tenho planeado uma entrada neste blog foi o : "Manifesto contra o trabalho", uma compilação de um grupo de reflexão alemão (Grupo Krisis: http://www.krisis.org). Trata-se de um conjunto de ideias anarquistas recauchutadas com uma visão pós-marxista que não assume plenamente as suas influências base.
Se é verdade que tenho alguma dificuldade em identificar-me com as ideias apresentadas e com as soluções propostas, a leitura ajudou-me a solidificar algumas ideias que vinha a formar sobre o assunto. O trabalho está efectivamente a tornar-se um valor por si, um valor que o tradutor caracterizou de "autotélico", reforçando a visão protestante da vida que aparentemente está a tomar conta da sociedade.
Já não é a primeira vez que alguém se dirige a mim com um orgulhoso: "sou um workaholic", expressão que confesso não me cai bem. O que será que leva as pessoas a orgulharem-se de tal dependência? A "encher a boca" para assumir que provavelmente é explorado não sabe bem por quê, não sabe bem por quem, e provavelmente nem sequer por necessidade, antes fruto de processos pouco estruturados ou inexistentes, de gestores medíocres e cobardes numa economia efectivamente competitiva em que os resultados têm que aparecer a qualquer preço (excepto o da deterioração dos indicadores). Estas pessoas abdicam de forma voluntária de um crescimento humano mais abrangente (a cultura, a família, o lazer ou o desporto) por esse valor pouco claro que é uma suposta hiper-competência que tipicamente nem sequer se reflecte na remuneração ou no alargamento dos períodos de férias, apenas na clássica (aparentemente do agrado do nosso governo) palmadinha nas costas e, com um bocadinho de azar, de uma carta de despedimento.

2003-10-16

Parabéns

Serve esta entrada no Fado para dar os meus parabéns aos meus pais, José e Mª Helena Quitério, que fazem hoje 27 anos de casados.
Sem querer entrar na discussão do valor e importância do casamento enquanto instituição social, devo confessar que me considero um privilegiado enquanto parte (dizem as más línguas que também motor de arranque) deste casamento.
Que fique registado na blogosfera que estes pais, são uns bons pais e que (como é moda nos dias de hoje) o facto de o filho ter saído assim pode perfeitamente ser atribuído á conjuntura externa (ele sempre viu demasiada televisão...).

Um beijo grande e muitos mais anos de felicidade.