2004-09-13

SNS

“Aqueles que mais podem, quando recorrerem ao Serviço Nacional de Saúde têm de pagar a taxa correspondente ao seus rendimentos e por isso mesmo terão cartões que os identificam segundo classe de contribuinte que têm. Quem não pode não paga, agora quem podem pagar, com certeza tem de pagar a taxa correspondente ao seu rendimento», explicou Santana Lopes (citado na TSF Online).

Em face do que também eu me vejo forçado a dar uma explicação a todos os bancos e emissores de cartões em geral:

Como V.Ex.as sabem sou obrigado a usar diariamente na carteira uma larga panóplia de cartões que vão desde o bilhete de identidade ao cartão de contribuinte, multibanco, cartão de crédito e de sócio do ACP (com opção – não activada - de cartão de crédito mastercard) e o da Via Verde, cartão de funcionário e de “ponto” e cartões de visita, os de utente da Savida e do SNS, de beneficiário dos SSMJ (“com restrição de direitos”) e da ADSE, o cartão de eleitor e a carta de condução.

Em casa, deixo, ainda, por desnecessários ou não usados, (salvo, nos casos aplicáveis, para colagem da vinheta da quota paga) os cartões de sócio do Grupo Desportivo e Recreativo Ataíjense, da Associação Cultural e Recreativa das Olalhas, da Associação de Melhoramentos do Poço Redondo, da Caixa de Previdência do Ministério da Educação, da Cooplar – Cooperativa de Habitação e Construção, CRL, , e do Grupo da Moda e cartões da Makro e de desconto da Shell e da Repsol, do PS, de dador de sangue ao Hospital de Santa Maria e de carregamento do telemóvel pré-pago.

Guardo, a título de objectos de estimação, cartões vários, designadamente os de aluno da Escola Industrial Afonso Domingues e da Faculdade de Direito de Lisboa e os de sócio do Sindicato dos Técnicos de Desenho e do STE - Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado.

Deitei fora, ou perdi ou rasguei, por considerar inúteis ou porque os recebi em circunstâncias já ultrapassadas ou, simplesmente, sem os ter pedido, cartões de crédito vários, do Totta ao Citibank e do Carrefour ao Corte Inglés e a mais não sei quantas e quais entidades, o de leitor da Biblioteca Municipal do Vale Fundão, o da Charles, o da Fotosport e o de vitivinicultor e recusei-me a preencher o formulário para, entre outros, o cartão da FNAC (o único cartão que não tenho e gostava de ter é o de sócio da ADEPA - Associação de Defesa do Património Cultural da Região de Alcobaça. Mas a verdade é que nunca consegui descobrir como é que um homem se pode fazer sócio de tão prestimosa agremiação, apesar de mais de uma tentativa).

Para tal chuva de cartões e mais o passaporte, a caderneta militar, o boletim internacional de vacinação e outros que agora me não ocorrem, não me bastaria uma carteira, nem, talvez, uma mala de média dimensão (permita-se-me que, aqui manifeste a minha profunda solidariedade a todos aqueles infelizes cidadãos que possuidores de todos estes cartões, ou equivalentes, ou similares, carregam, ainda, com mais três ou quatro cartões de crédito, solidariedade essa mais intensa ainda, se possível, nas segundas quinzenas de cada mês).

Compreenderão, pois, V.Ex.as que eu não queira mais cartões. Acresce que, sendo eu funcionário público, cumpridor forçado das minhas obrigações fiscais, não há qualquer espécie de dúvida de que Sua Excelência o Primeiro-Ministro vai tirar a brilhante conclusão de que eu integro o grupo daqueles que mais podem e, assim, não só me vai obrigar a andar com mais um cartão (de uma penada Sua Excelência criou um novo negócio – mais de dez milhões de cartões -, que, por de êxito antecipadamente garantido, vai ter reflexos positivos na evolução do PIB. Por isso, a minha homenagem), como me vai fazer pagar mais pelo Serviço Nacional de Saúde,

Explicação, pois, a todos os bancos e emissores de cartões em geral:

Estando eu irritado com esta mania dos governos de irem buscar o dinheiro ao sítio do costume (consta que o Joe Dalton respondeu, quando o juíz lhe perguntou porque é que assaltava bancos, que era porque lá é que estava o dinheiro – queria ele dizer que sabia que lá estava dinheiro que ele podia tirar) e com as pretensas explicações de Sua Excelência que nada explicam (porque é que Sua Excelência não me explica, por exemplo, se a idéia é de algum pícaro autótone ou, pelo contrário, foi copiada de um daqueles países que queremos imitar?). Estando eu convencido que a minha inteligência está a ser insultada e não podendo, por razões que me dispenso de explicitar, insultar a inteligência de Sua Excelência (e, assim, não insulto), peço encarecidamente a todos os emissores de cartões (em particular ao Citibank e ao Totta que têm tendência para me tentar impingir cartões de crédito quanto estou a jantar) que façam o favor de me não oferecer mais cartões. Muito menos à hora de jantar. É que eu, confesso, às vezes perco as estribeiras e não quero que V.Ex.as sejam molestadas com insultos que, melhor, assentariam a outros fornecedores de cartões.