2008-01-13

Americanos

Vêm de Portugal? Deve ter sido uma viagem muito cara. Porque é que estão aqui? Acho que nunca cá vi um português. Estávamos em Oklahoma City, no Crossroad Mall (ou era no Penn Square?), na Lane Bryant, (the fashion leader in women’s plus-size clothing) e a curiosidade da vendedora era genuína e simpática. Ir à américa e não ver um Mall é como ir a Roma e não ver o Papa (o que aliás, já me aconteceu. De qualquer modo, já o vi o Papa a passar no Marquês de Pombal). Simpatia foi uma das grandes surpresas das férias: Vocês sabiam que os americanos são muito simpáticos e educados? Eu, confesso, não ía com muitas esperanças.
A jovem empregada de mesa em St. Louis: I never see the Ocean. Is not amazing? Por todo o lado: Portugal é na Europa, não é? Próximo de Espanha? Lá falam espanhol? Não, não falamos. Falamos português, like in Brazil. O Português é a quinta língua mais falada no Mundo, não sabia?
Em San Francisco, o Sr. de fato interrompeu a leitura do Financial Times e, logo que entramos no autocarro a conversar animadamente, colocou um largo sorriso e falando num português lento, com forte sotaque, mas muito bem construído: Estão a falar português, são de Portugal? Eu conheço Portugal. Conhece Minde? Tenho lá uns amigos: A Ana e o Jorge Pires. A conversa continuou animada até ao fim da viagem, o Sr. falando do Algarve e do Minho: Braga, conheço bem, já lá estive nas festas de São João! Sardines, I like very much. Ou o casal que percorria a Route em sentido inverso para visitar familiares na Costa Leste: I’m japanese... borned in San Francisco, dizia enquanto admirávamos, no parque de estacionamento do Motel, o camião que também tinha rodas de comboio para poder exercer a função de fiscalização das linhas. Engenheira informática de Silicon Valley, também não se lembrava de, antes, ter visto um protuguês.
Ou aquele outro viajante, junto ao Oklahoma Route 66 Museum, em Clinton, OK, a quem pedi para me deixar fotografar a sua extravagante Harley-Davidson e que levou a simpatia ao absurdo de afirmar que eu falo bem inglês!
Cuba, Mo, The Mural City, em Crawford County é uma cidadezinha que, passadas 85 milhas de St. Louis, se faz anunciar por uma enorme placa informativa na beira da Interstate 44: Visitors and Information Center: Portugueses? Nunca cá tive um português. Têm de assinar o meu livro. (livros de visitas é o que não falta ao longo da Route 66. Cheios de patriótica vaidade, deixámos os nossos nomes em alguns deles).
Os americanos são, pois, simpáticos. E gordos. Muito gordos. Exageradamente gordos. Parece, ao menos a acreditar nos anúncios no dorso dos autocarros que chamam a atenção para os perigos da gordura nas crianças que estão, finalmente, a tomar consciência desse facto. Chega a ser incomodativo: Ao terceiro dia de viagem, ainda em Chicago, fiz no meu caderno de apontamentos um tosco desenho, algo como um ovo com pernas, a que chamei “Chicaguense médio visto de costas”. Jovens mães com evidente obesidade mórbida. Motoristas de camião com braços mais grossos que as minhas pernas. Por todo o lado, para grande gaúdio dos fabricantes de cadeiras de rodas eléctricas, gente que já não conseguia arrastar o próprio peso e, até, SUV’s com gruas montadas na bagageira, para fazer subir e descer essas cadeiras.
Estes americanos não vivem, ao contrário do que se pode julgar, em arranha céus que, fora Manhattan, ou a Downtown de Chicago são pequenos aglomerados, em geral nos chamados Finantial District das maiores cidades. No mais, desde as quintas verdes do Illinois até à Califórnia, o que vemos é um país plano com poucas árvores e, quando há uma árvore, é certo que ao seu abrigo está uma casa de madeira, térrea, com um pequeno jardim, exactamente como a dos Simpson’s. Luxuosas em Beverly Hills. Compostinhas nos subúrbios de classe média. Práticas nas quintas, com arrecadações em volta e tractores no terreiro. Degradadas, sem ver pintura há longos anos, rodeadas de sucata e com roupa estendida ou já de janelas esventradas, em cidadezinhas decadentes.
Os americanos que eu vi são simpáticos, gordos e moram numas casinhas de madeira debaixo das árvores.