2008-03-09

Notícias


Route 66 – Notas de viagem VII

Tirando alguns jornais gratuitos (o Metro é igual mas vem agrafado como uma revista. Cada número do Village Voice tem mais anúncios de serviços sexuais que uma semana inteira de Diário de Notícias e também com muitas – as mesmas – fotografias coloridas) que os americanos têm numas caixas metálicas perfiladas na borda do passeio – os pagos também estão em caixas idênticas, alinhadas na mesma correnteza, mas que só abrem contra a introdução das necessárias moedas – a nossa relação com a comunicação social resumiu-se ao automatismo de ligar a televisão nos quartos dos hotéis. Partimos cheios de vontade de ouvir música nas longas horas de viagem e fomos carregados com uma caixa de CD’s. A verdade é que ouvimos um e as rádios não foram suficientemente apelativas para que nos calássemos a ouvi-las. A paisagem lenta. O olha! viste? A atenção às pequenas coisas que iam desfilando perante os nossos olhos ávidos. Um road runner fugidio tal como o seu irmão Bip Bip dos desenhos animados. Aqueles ratos que ficam de pé a mirar atentos em redor. E nós, como eles, com vontade de ver tudo, sobrepuseram-se a qualquer desejo de informação mediada.
Ficou, pois, só a televisão. Lá, como cá: Novelas e telenovelas. Novelas para hispãnicos onde só há hispãnicos. Soap operas com famílias negras. Novelas, telenovelas e soap operas com histórias de brancos e intérpetres brancos. Directos de desgraças. O Weather Channel que também prefere as trovoadas ao bom tempo e tem diariamente de inventar modo de encher 24 horas. E a CNN.
Desgosto. Espanto. Incredulidade. Eu que estava convencido que a CNN era o rigor em forma de ecran, colmeia de reporteres oportunos, corajosos e objectivos dou com quê? Com a TVI em inglês.
A Paris Hilton que é uma espécie de Cinha Jardim lá do sítio, mas mais rica, mais nova e, tenho de o reconhecer, mais feia, tinha-se deixado prender já nem me lembra bem porquê.
Vai daí, uma pessoa levantava-se, ligava o aparelho e lá estava na CNN: reportagem de exterior, a menina a entrar na prisão, a menina a sair da prisão, depoimentos de advogados, de celebridades várias, do motorista e do jardineiro e do jardineiro que nada sabia do assunto e só estava a jardinar quando a Paris por alí passou. Chegava-se ao hotel há noite e imaginava-se que todo o dia teria sido assim. Mais directos, mais entrevistas a quem nada tinha a dizer sobre o assunto, mais depoimentos com ar sério como se de coisa séria se tratasse, debates em estúdio.
Terminou tudo, como sabemos, no Larry King.
Vista na América, a CNN parece-se estranhamente com a TVI.

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