2008-02-13

Route 66 - notas de viagem V

9-6-2007 - Primeiro dia na estrada
Levantámo-nos às 6H30 da manhã, com um sol radioso que, aliás, já ía alto e saímos de Chicago mergulhando na Interstate 55 com o propósito de seguir até Springfield. Quem diz que o Alentejo é plano nunca andou por estas bandas, anotei no caderno. O Illinois é plano. Plano e verde, plano e verde durante centenas de quilómetros. Paramos em Pontiac para esticar as pernas e fizemos o nosso primeiro troço da Route 66, onde o João se estreou a conduzir. Em Bloomington um engano obrigou-nos a dar umas voltas suplementares. Aproveitei para, numa estação de serviço, fazer o que já devia ter feito antes: obter o mapa oficial das estradas do Estado.
Por estas alturas já estava quase convertido às virtudes das mudanças automáticas e convencido de que conduzir nos EUA é muito fácil. Tudo à mesma velocidade, tudo muito certinho, tudo muito bem sinalizado. Sem sinais, diga-se. Os sinais de trânsito nos Estados Unidos são poucos, muitas vezes substituídos por placas onde, simplesmente, se escreve o que o condutor deve ou não deve fazer. O mais curioso de todos e frequente é, aliás, escrito em letras garrafais no próprio alcatrão PEDXING, cujo significado só o João descobriu: Pedestrian Crossing. Estranho para um português é o facto de os semáforos estarem, em geral, colocados depois do cruzamento. Mas a adaptação foi muito fácil e, poucos cruzamentos depois, já estávamos todos convencidos de que a medida é inteligente. Tem, pelo menos, duas vantagens: pode-se virar à direita com o sinal vermelho e o nome das ruas transversais está quase sempre bem visível numas placas verdes e compridas colocadas no mesmo suporte do semáforo.
Chegados a Springfield fomos direitinhos ao Cozy Drive In. Trata-se de um dos estabelecimentos clássicos da Route 66, cheio de turistas, de memorabilia da Route 66 e de Harley’s estacionadas à porta, num cenário que se há-de repetir ao longo da viagem. O Cozy Dog é bom mas as batatas fritas que o acompanhavam tinham um ar perfeitamente desgraçado, moles e negras, como se tivessem sidos feitas em óleo usado vezes de mais. Não há álcool. Há uma coisa pavorosa chamada Bier Route 66. Sabe a qualquer coisa parecida com elixir bocal. Na generalidade dos restaurante americanos não há alcool. Parece que para vender alcool é precisa uma licença especial e, de qualquer modo, na maioria dos Estados é, de todo, desaconselhável cheirar alcool quando se conduz. No illinois, por exemplo, exceder a taxa máxima de alcoolémia permitida nos condutores é motivo para penas duras que podem incluir a cassação da carta, um ano de prisão e $2000 dólares de multa
Springfield (terra de Lincoln) é uma cidade estranha. Capital do Illinois, funciona de segunda a sexta. Hoje é sábado e, por isso, está deserta de políticos e de funcionários e só os turistas lhe dão alguma animação. O Capitólio, onde fizémos uma visita guiada e Barak Obama lançou a sua candidatura presidencial, é um edifício muito interessante, na sua traça neoclássica, de planta em cruz, com cúpula central, semelhante a diversos Capitólios que se podem encontar em outras capitais de Estado americanas. A loja do museu Lincoln (aqui tudo parece girar à volta de Lincoln) tem tudo à venda, até pedaços de madeira, certificados e numerados, da casa de Lincoln. Em frente há uma antiga estação de comboio da Amtrak, impecavelmente recuperada. Bonitinha, mas parece Walt Disney. Eu nunca diria que se tratava de uma estação de comboios. Deviam ter deixado um bocado de linha para orientar os distraídos.
Chegámos cedo ao Motel que tinhamos reservado em St. Louis North. A par do de Hollywood foi o pior Super 8 que conhecemos. Os quartos até nem eram maus e pareceram limpos mas a alcatifa do Hall de entrada que é ao mesmo tempo recepção, sala de estar e sala de pequenos almoços, essa, não via uma limpeza decente há demasiado tempo.
A fim da tarde fomos até St. Louis. O Busch Stadium estava a abarrotar de gente. A Lena descobriu no Route 66 Dining & Lodging Guide que tínhamos comprado na Amazon para ajudar a planear a viagem que, em Chipewa, a sul de St. Louis, há uma gelataria a não perder. Encontrámo-la com facilidade. Grande espectáculo. Em volta de uma pequena casa de madeira com um balcão dando directamente para a rua, com uns taipais levantados à maneira das roulotes de couratos no Campo Grande em dia de futebol, dezenas e dezenas de pessoas, famílias inteiras, a comer gelados servidos em enormes copos de papel encerado. Gelados bons, aliás. Foram o nosso jantar. O Ted Drewes Frozen Custard merece bem a estrela (worth making plans to visit) que o Route 66 Dining & Lodging Guide lhe atribui.

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