2008-02-05

Barcos, Alturas e Limousines

(Route 66 – notas de viagem IV)
A meu ver, se há coisa que nunca se deve perder em qualquer local que visitemos é um passeio de barco, se o houver.
Quando o Zé Maria venceu o Big Brother levaram-no a Paris e foi ver os telespectadores a rir, galhofando do barranquenho, no Sena, na proa do bateau mouche, de olhos arregalados e boca aberta de espanto. Eu, por mim, já fiz aquela figura por duas vezes e não me importava de a fazer pela terceira.
Também na América há que entrar em todos os barcos que façam passeios turísticos:
Na Briktown de Oklahoma City, apesar dos mosquitos e da jovem timoneira, também ela americanamente simpática e mais pesada do que recomendaria qualquer médico e faladora, faladora, mais barulhenta que um bando inteiro de gralhas.
No rio Mississipi em Saint Louis porque é daí que se pode ver o Arco em toda a sua grandiosidade, simplicidade e beleza.
Na baía de São Francisco, desde Fisherman's Wharf até Golden Gate Bridge (há um cruzeiro alternativo com visita a Alcatraz mas eu nunca viajo para ver coisas feias e prisões, sei-o por experiência profissional, são lugares feios).
Em New York, desde Battery Park até Liberty Island (é preciso ir também, a Brooklin e ao topo do Empire State Building, porque andando em Manhattan não se vê Manhattan). À Estátua da Liberdade não pudemos ir. Consta que as bichas são enormes e que o melhor é comprar o bilhete um ou dois dias antes. De qualquer modo, àquela hora, já estava fechada.
Mas, passeio de barco é no Rio Chicago, em cujas margens se debruçam todos os arranha-céus que justificam o apelido da Architectural City. Inicia-se a viagem perto do Navy Pier que é hoje um parque de diversões, como o é o Pier 39, San Francisco's Premier Bay Attraction, onde o cruzeiro à ponte começa pela vista da colónia de leões marinhos que resolveu fazer casa dentro da doca, em cima de uma balsa. Há aqui atracções que, para um maluco dos camarões e do cinema como eu, são imperdíveis: O Bubba Gump Shrimp Co. Restaurant and Market, uma indústria criada à sombra de um filme, onde os camarões panados e o ambiente são uma delícia. Há, também, fruta que só se viu na Califórnia: umas cerejas gigantes que provámos e gostámos e uns morangos do tamanho de maçãs que vimos ser compradas à peça, acompanhadas de um boiaozinho de uma compota estranha (a Lena diz que era chocolate) onde o jovem casal de compradores mergulhava o fruto antes de cada dentada.
Subir ao ponto mais alto que houver por perto é, também, sempre, imprescindível. Se o vento obrigar, como foi o caso, ao encerramento da Sears Tower, o John Hancock Center é uma excelente alternativa para ver Chicago aos nossos pés e, no rés-do-chão, tem um enorme The Cheesecake Factory (upscale casual dining restaurant offering over 200 menu selections - diz a publicidade), naquele dia ensolarado cheio de famílias em passeio.
Na plana América que eu vi, onde até as montanhas entre o Nevada e a Califórnia se subiram e desceram com facilidade, não havia muito sítios onde subir. Mas vale bem a pena o Sandia Peaks, onde a mais de 3000 metros se tem uma vista fabulosa de Albuquerque e do Novo México até ao horizonte.
O Gateway Arch of Saint Louis tem no seu interior umas pequenas cabinas mal amanhadas, em fibra de vidro, onde cinco pessoas apertadas e curvadas podem subir até ao topo. A coisa é ligeiramente arrepiante: para acompanhar a curvatura do arco há, de vez em quando, um estremeção e um ranger de metal que não deixa ninguém muito à vontade. A pequena americana, de olhos ligeiramente esbugalhados, transmitindo um medo que os adultos guardavam para si, não parou em toda a viagem: Daddy, funny egg! Funny egg! Dias depois do regresso a Portugal li que o sistema tinha avariado e as pessoas ficaram lá fechadas durante duas horas. Não me surpreendeu mas não gostaria de ter passado pela experiência. Lá em cima, umas janelas raquíticas permitem ver toda a região de St. Louis e, em grande plano, o Busch Stadium, home of the Cardinals, àquela hora cheio de adeptos de baseball.
Há também que, cinefilamente, subir e descer Mulhohand Drive, embora a pequena colina onde está o Getty Center já seja suficiente para se ter uma belíssima vista panorânica sobre Los Angeles.
Em Hollywood há um stand ao ar livre, à beira da rua, cheio de Rolls-Royce em 2ª mão mas, apesar de eu conhecer várias pessoas que gostariam de ter na garagem um Rolls-Royce e nenhuma que lá quisesse ter uma limousine, parece que os nativos preferem as limousines. Limousines são americanices. Monumentos ao mau gosto que nós europeus instintivamente associamos a americano. Carros disformes, feios, conseguidos por mero corte, acrescento e soldagem de outros carros, cada uma mais aberrante que a outra. Via-as feitas de Hummer’s e de Ford Super Duty’s. São especialmente numerosas em Las Vegas. Imaginamo-las, todas, levando no seu interior estrelas de cinema, mafiosos ou cantores de rap. Algumas, talvez, jogadores afortunados. Certo é que uma delas transportava um bando de adolescentes barulhentos emergindo das janelas abertas. Uma das passageiras levantou por momentos a camisola e mostrou as mamas aos passantes. Já tinha visto a cena num filme. Parece-me que ela também.

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