Diz o António Costa numa entrevista ao DN: “A minha mãe está sempre em protesto. Há quarenta e oito anos que é assim, só varia o tema.”
O meu amigo é assim. Parece a mãe do António Costa. Está, há mais de trinta anos, (desde que o conheço), em protesto. Só varia o tema.
Agora na merecida reforma, ocupa os dias a enviar, a uma alargada lista de contactos, carradas de emails a protestar.
Só nos últimos dias, protestou contra o TGV, o NAL, a reforma do Padre Milícias, os vencimentos dos pivots da RTP e a Maitê Proença.
O meu amigo é um homem bom (condição que exijo de todos os meus amigos) mas tem o coração ao pé da boca.
O meu amigo faz-me, irresistivelmente, lembrar os Deolinda, de que também gosto muito, especialmente a canção Movimento Perpétuo Associativo que parece ter sido escrita a pensar nele:
Agora sim, damos a volta a isto!
Agora sim, há pernas para andar!
Agora sim, eu sinto o optimismo!
Vamos em frente, ninguém nos vai parar!
-Agora não, que é hora do almoço...
-Agora não, que é hora do jantar...
-Agora não, que eu acho que não posso...
-Amanhã vou trabalhar...
Agora sim, temos a força toda!
Agora sim, há fé neste querer!
Agora sim, só vejo gente boa!
Vamos em frente e havemos de vencer!
-Agora não, que me dói a barriga...
-Agora não, dizem que vai chover...
-Agora não, que joga o Benfica...
e eu tenho mais que fazer...
Agora sim, cantamos com vontade!
Agora sim, eu sinto a união!
Agora sim, já ouço a liberdade!
Vamos em frente, e é esta a direcção!
-Agora não, que falta um impresso...
-Agora não, que o meu pai não quer...
-Agora não, que há engarrafamentos...
-Vão sem mim, que eu vou lá ter...
O meu amigo parece a mãe do António Costa.
Acorda, diariamente, convencido de que a sua obrigação é protestar.
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