2008-04-13

Route 66 - Notas de viagem XIII

18-6-2007 - De Flagstaff a Las Vegas

A jornada de hoje havia de nos levar, andados cerca de 450 quilómetros, a Las Vegas, num desvio que um portugesinho, tão longe de casa e sem certezas de alguma vez voltar a estas bandas, não pode deixar de fazer mesmo que para isso tenha de sacrificar uma parte da Route 66 que, ao que leio, também tem muita coisas interessantes para ver.
Logo à saída do motel encontrámos esta curiosa demonstração de como um único motorista pode conduzir três camiões.

A primeira paragem foi em Williams, de onde parte o comboio para o Grand Canyon e chegou a estar no plano de viagem como local de dormida. no entanto, a opção de ficar duas noites em Flagstaff revelou-se, no entanto, bem acertada. Quer pela cidade quer porque esta viagem é fisicamente exigente e são grandes as vantagens de dormir duas noites seguidas na mesma cama e passar um dia sem fazer e desfazer as malas.
Continuamos a mais de dois mil metros de altitude, rodeados por uma enorme floresta (a Kaibab National Forest) de pinheiros (pinus ponderosa), uma das árvores mais comuns dos EUA, onde ocupa uma superfície total maior do que a de Portugal.
Williams que se designa (marca registada) Gateway to the Grand Canyon é, aos nossos olhos apressados, mais uma típica cidade americana de fronteira. Com pouco mais de 3000 habitantes, a sua localização previlegiada relativamente ao Grand Canyon, torna-a um destino turístico relevante, onde vale a pena parar, quanto mais não seja para, como nós, passear na Downtown bem conservada, com muitos edifícios de pedra e de tijolo e cheia de lojas interessantes ou curiosas e aproveitar para, no Williams Visitor Center, ir à internet enviar uns emails e conferir os recebidos.
Retomamos a I40. Os pinheiros começam a rarear até desaparecerem e retornarmos ao deserto. Setenta quilómetros andados, abandonamos a Interstate para entrar no mais longo troço contínuo da Route 66 ainda em uso.
O apogeu do american kitsch que, com frequência, rodeia a Route 66, é este estabelecimento de ar decrépito, em Selligman, onde se vendem bebidas frescas e toda a memorabilia da Route e se amontoam os símbolos dos felizes anos 50 numa amálgama que não chega a ser de mau gosto mas aparece aos nossos olhos como evidência da inocência que tantas vezes associamos aos americanos. É, efectivamente, de inocência que se trata. Por absurdo que vos pareça, o que me veio à cabeça perante tal visão foram aquelas hortas que todos conhecemos da beira dos auto-estradas nos arredores de Lisboa, onde reformados saudosos da origem rural plantam afincadamente hortaliças, despreocupados da óbvia poluição do local, enquanto, assustados com os potenciais prejuízos que a passarada, os cães e os passantes sejam capazes de provocar, rodeiam os canteiros de toscas sebes de madeira e chapa, enchem os cantos de bidões coloridos para garantir a rega e constroem espanta-pardais pendurando latas, garrafas de plástico e panos velhos, em paus e canas.

Mas hoje não vamos ver hortaliças. Apenas morros pedregosos onde, a espaços, se vislumbram ruínas de cidades fantasmas, restos de pequenos aglomerados que o tempo e o deserto engoliram ao ritmo do esgotamento das minas de prata que justificavam a sua existência. É o caso de Hackberry, oficialmente uma Ghost Town de que sobra o Hackberry General Store, com uma curiosa colecção de bombas de gasolina, máquinas de gelo e de coca-cola, fotografias de Marilyn Monroe e de Elvis Presley, anúncios e logos antigos incluindo um grande cavalo alado da Mobil, automóveis e pequenas camionetas dos anos quarenta e cinquenta. Um dos mais conhecidos ícones da Route 66 que é, também, um interessante museu no deserto com essa vantagem imensa, neste dia escaldante, de ter sombra e bebidas frescas.
Em Kingman alomoçamos, vimos os comboios da BNSF e viramos para Norte, pela US 93, sempre por paisagens áridas,


até à Hoover Dam.
Construída no tempo record de quatro anos, entre 1931 e 1935, a Hoover Dam é, ainda hoje, uma das maiores barragens do mundo, fornecendo energia eléctrica ao norte do Arizona, Las Vegas e grande parte do Nevada e Califórnia. Há visitas guiadas ao interior que não deixamos de fazer (não percebo porque é que a EDP não tem um programa consistentes de visitas a barragens). Estava um calor insuportável, mas isso não impedia centenas de turistas (um deles rigorosamente vestido de cowboy, incluindo cinturão de onde pendia um pequeno coldre que era a bolsa do telemóvel) de admirar uma das grandes obras de engenharia dos EU.


Entramos no Nevada, passando ao lado de Boulder City, a cidade construída para alojar os trabalhadores que fizeram a barragem e, pouco depois, começa a surgir do deserto, como gigantesca miragem, o absurdo de Las Vegas.

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