2004-11-09

Miguel Pais do Amaral

Conforme declarações de hoje, do próprio, fica definitivamente provado que o Engº não é um pressionado.
É um papagaio!
Que o caso Marcello é um problema interno de uma empresa privada. Disse!
Mas óh meu senhor!
Isso é o que nós andamos a ouvir, há um mês, dos melhores porta-vozes do PSD e do PP.
Só agora é que ouviu, ou só agora é que percebeu?
Papagaio, surdo e de compreensão lenta?

2004-09-13

SNS

“Aqueles que mais podem, quando recorrerem ao Serviço Nacional de Saúde têm de pagar a taxa correspondente ao seus rendimentos e por isso mesmo terão cartões que os identificam segundo classe de contribuinte que têm. Quem não pode não paga, agora quem podem pagar, com certeza tem de pagar a taxa correspondente ao seu rendimento», explicou Santana Lopes (citado na TSF Online).

Em face do que também eu me vejo forçado a dar uma explicação a todos os bancos e emissores de cartões em geral:

Como V.Ex.as sabem sou obrigado a usar diariamente na carteira uma larga panóplia de cartões que vão desde o bilhete de identidade ao cartão de contribuinte, multibanco, cartão de crédito e de sócio do ACP (com opção – não activada - de cartão de crédito mastercard) e o da Via Verde, cartão de funcionário e de “ponto” e cartões de visita, os de utente da Savida e do SNS, de beneficiário dos SSMJ (“com restrição de direitos”) e da ADSE, o cartão de eleitor e a carta de condução.

Em casa, deixo, ainda, por desnecessários ou não usados, (salvo, nos casos aplicáveis, para colagem da vinheta da quota paga) os cartões de sócio do Grupo Desportivo e Recreativo Ataíjense, da Associação Cultural e Recreativa das Olalhas, da Associação de Melhoramentos do Poço Redondo, da Caixa de Previdência do Ministério da Educação, da Cooplar – Cooperativa de Habitação e Construção, CRL, , e do Grupo da Moda e cartões da Makro e de desconto da Shell e da Repsol, do PS, de dador de sangue ao Hospital de Santa Maria e de carregamento do telemóvel pré-pago.

Guardo, a título de objectos de estimação, cartões vários, designadamente os de aluno da Escola Industrial Afonso Domingues e da Faculdade de Direito de Lisboa e os de sócio do Sindicato dos Técnicos de Desenho e do STE - Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado.

Deitei fora, ou perdi ou rasguei, por considerar inúteis ou porque os recebi em circunstâncias já ultrapassadas ou, simplesmente, sem os ter pedido, cartões de crédito vários, do Totta ao Citibank e do Carrefour ao Corte Inglés e a mais não sei quantas e quais entidades, o de leitor da Biblioteca Municipal do Vale Fundão, o da Charles, o da Fotosport e o de vitivinicultor e recusei-me a preencher o formulário para, entre outros, o cartão da FNAC (o único cartão que não tenho e gostava de ter é o de sócio da ADEPA - Associação de Defesa do Património Cultural da Região de Alcobaça. Mas a verdade é que nunca consegui descobrir como é que um homem se pode fazer sócio de tão prestimosa agremiação, apesar de mais de uma tentativa).

Para tal chuva de cartões e mais o passaporte, a caderneta militar, o boletim internacional de vacinação e outros que agora me não ocorrem, não me bastaria uma carteira, nem, talvez, uma mala de média dimensão (permita-se-me que, aqui manifeste a minha profunda solidariedade a todos aqueles infelizes cidadãos que possuidores de todos estes cartões, ou equivalentes, ou similares, carregam, ainda, com mais três ou quatro cartões de crédito, solidariedade essa mais intensa ainda, se possível, nas segundas quinzenas de cada mês).

Compreenderão, pois, V.Ex.as que eu não queira mais cartões. Acresce que, sendo eu funcionário público, cumpridor forçado das minhas obrigações fiscais, não há qualquer espécie de dúvida de que Sua Excelência o Primeiro-Ministro vai tirar a brilhante conclusão de que eu integro o grupo daqueles que mais podem e, assim, não só me vai obrigar a andar com mais um cartão (de uma penada Sua Excelência criou um novo negócio – mais de dez milhões de cartões -, que, por de êxito antecipadamente garantido, vai ter reflexos positivos na evolução do PIB. Por isso, a minha homenagem), como me vai fazer pagar mais pelo Serviço Nacional de Saúde,

Explicação, pois, a todos os bancos e emissores de cartões em geral:

Estando eu irritado com esta mania dos governos de irem buscar o dinheiro ao sítio do costume (consta que o Joe Dalton respondeu, quando o juíz lhe perguntou porque é que assaltava bancos, que era porque lá é que estava o dinheiro – queria ele dizer que sabia que lá estava dinheiro que ele podia tirar) e com as pretensas explicações de Sua Excelência que nada explicam (porque é que Sua Excelência não me explica, por exemplo, se a idéia é de algum pícaro autótone ou, pelo contrário, foi copiada de um daqueles países que queremos imitar?). Estando eu convencido que a minha inteligência está a ser insultada e não podendo, por razões que me dispenso de explicitar, insultar a inteligência de Sua Excelência (e, assim, não insulto), peço encarecidamente a todos os emissores de cartões (em particular ao Citibank e ao Totta que têm tendência para me tentar impingir cartões de crédito quanto estou a jantar) que façam o favor de me não oferecer mais cartões. Muito menos à hora de jantar. É que eu, confesso, às vezes perco as estribeiras e não quero que V.Ex.as sejam molestadas com insultos que, melhor, assentariam a outros fornecedores de cartões.


2004-08-26

PÚBLICO

Ex.mo Sr. Director do jornal PÚBLICO
Sou leitor do "PÚBLICO" desde o primeiro número. Não posso, por isso, deixar de me inquietar com as derivas editoriais a que ultimamente tenho vindo a assistir e põem em causa a credibilidade que o jornal me merece e quero que continue a merecer.
Hoje decidiu V.Ex.a puxar para título a afirmação de que "Juiz da Relação que decide destino de Pedroso tem ligações ao PS".
Tem o PÚBLICO consciência do que está a fazer?
Os juízes vão, agora, ficar todos sob suspeita e vamos escrutinar, para cada caso, não só as suas eventuais simpatias partidárias como também as dos cônjuges e, sabe-se lá as de que mais parentes, amigos e vizinhos?
Pretende V.Ex.a que, a partir de agora, nenhum juíz possa julgar pessoas de partido de que seja simpatizante?
Poderá esse mesmo juíz julgar casos em que são parte pessoas de partidos com que, de todo em todo, não simpatiza?
Mero exemplo: Diga-me Sr. Director (diga aos seus leitores) que casos poderá julgar o Sr. Desembargador Adelino Salvado (que não sendo, eventualmente, simpatizante do CDS-PP é, ao menos a acreditar em notícias do PÚBLICO, simpático ao CDS-PP)?
PS: Tem razão. Eu sou militante do PS. Tem, também, razão. Eu não lhe escrevi quando um juiz foi impedido de intervir num caso porque o seu pai era assessor de um dos implicados.
Mas eu sou parcial e gosto de ser parcial. O PÚBLICO e o seu director é que se dizem independentes (são mesmo ou querem dizer-nos (só como chave de leitura) das suas simpatias político-partidárias?
Por outro lado;
Será que, como hoje sugere JPP no "ABRUPTO", o "PÚBLICO" foi (esquecendo-se de citar a fonte) copiar a notícia ao "DO PORTUGAL PROFUNDO"?
E, a propósito de dependências, independências, simpatias e ligações partidárias:
Será que o "PÚBLICO" conhece (e esconde) as dependências, independências, simpatias ou ligações partidárias do ilustre alcobacense Dr. António Balbino Caldeira?

2004-02-27

Segurex

A segurança pessoal quer-se secreta, como pretende PSL? discreta como sugeriram alguns membros do seu partido? ou ostensiva, como ostensivos são os profissionais dela?
Na verdade, a segurança pessoal é sempre ostensiva, como bem o sabem todos os cinéfilos e espectadores de telejornais.
A lógica da ostentação tem a ver com o seu carácter dissuasor.
Admitindo que há razões válidas que levem a julgar credíveis as ameaças que, pelos vistos, foram feitas a PSL, custando, embora, acreditar que tais ameaças tenham razões políticas ou institucionais, é da natureza da segurança pessoal a exibição pública da sua presença. Desde logo, só pode haver segurança pessoal se houver uma grande proximidade física entre o objecto da segurança e os agentes desta, ora, no caso, essa proximidade não pode deixar de ser notada. Todos nos habituámos a ver o playboy PSL acompanhado de mulheres. Agora, se anda acompanhado de homens, toda a gente vai notar. Os que têm vista, porque um matulão de cabelo à escovinha, fato e óculos escuros (ainda que sem auricular), armado em sombra de PSL, não pode deixar de ser notado. Os cegos, porque o perfume não será (espera-se) o mesmo das companhias costumeiras.
Qual é, então, a perturbação de PSL?
Só podem ser dúvidas sobre a necessidade e, ou, os procedimentos. Tivéssemos nós serviços de informações a funcionar regularmente, com uma comissão de acompanhamento e fiscalização a funcionar regularmente e, certamente, descansaríamos todos e não teríamos dúvidas sobre as necessidades de segurança de PSL.
A telenovela que, nos últimos tempos foi, e ainda é, esta área da governança é que pode fazer perigar a segurança de PSL e de muitos de nós.
Mas descanse, meu caro e involuntário presidente. Do meu ponto de vista ninguém lhe quer fazer mal.
Porque os eleitores de Lisboa zangam-se com quem faz mal mas nunca com quem faz nada.
Porque, que a gente saiba, você não tem negócios mafiosos.
Porque, a acreditar nas revistas cor de rosa, a idade já lhe vai pesando, não se vendo marido, namorado, pai ou irmão que tenha razões recentes para lhe bater.
Eu, se fosse a sí, dispensava a segurança e mais umas quantas manias de grandeza.

2004-02-18

Alcobaça

Deparei hoje, por mero acaso (ou antes, na sequência de uma regular busca na Net para saber como vai lidando Alcobaça com as exigências do nosso tempo e, na secreta esperança de um dia verificar que, afinal, a Câmara Municipal de Alcobaça não é a última a ter um site), com o maisalcobaça (http://www.maisalcobaca.blogspot.com/).
É cedo para críticas ou, sequer, opiniões. Mas já há duas ou três coisas que merecem reflexão:
a) Não vale a pena começar já a debitar opiniões sobre se Alcobaça está bem ou mal governada. Eu, pessoalmente, não tenho dúvidas de que está mal governada. Mas, isso é coisa para ser demonstrada a seu tempo com exposição de factos, números e idéias. A minha proposta é: não extrememos posições, apresentemos razões. Será o maisalcobaça o lugar onde posso dar a minha contribuição?
Uma pista de reflexão: DR, I Série B, nº 40, de 17-2-2004, Resolução do Conselho de Ministros n.º 11/2004 que inclue Alcobaça no mapa "Portugal menos favorecido"
b) A desconfiança sobre quem está por "detrás" do blog pode fazer sentido. Há inconveniente na identificação?
Eu, por mim identifico-me já: José Quitério (há colaboração dispersa nos semanários locais) e opiniões em http://www.blogspot.fadomaior.com
email: jose_quiterio@hotmail.com.
c) Não é claro, no manifesto, de que Alcobaça falamos: A sede do concelho ou o concelho? A coisa parece-me importante até porque se é para tratar exclusivamente dos problemas citadinos não estou interessado por aí além. Sou um serrano da Ataíja de Cima e já não tenho paciência para centralismos da treta. Conheço um texto impresso em que se defende que o presidente da Câmara devia ser um alcobacense de Alcobaça. Ora, para tal peditório eu não dou.
Se é para discutir o concelho, digam.
José Quitério

2004-02-13

Compromisso Portugal II

Abre um homem o site do Compromisso Portugal (http://www.compromissoportugal.com/pontosfortes.shtml) e depara com esta pérola:

“Fazei a apoteose dos vencedores, seja qual for o sentido, basta que sejam vencedores”.
“Gritai nas razões das vossas existências que tendes direito a uma pátria civilizada”.
- escreveu em Lisboa, Dezembro de 1917 , Almada Negreiros no seu “Ultimatum Futurista” e exprime a síntese daquilo que pretendemos incentivar nesta rubrica do nosso site.”

A esta hora o Almada estará a rebolar a rir, lá no Céu dos Grandes onde se encontra e onde mantém, certamente, o humor acutilante com que zurziu todos os Dantas deste mundo, incluindo os que só o conhecem do ZIP-ZIP, ou nem daí.

A minha proposta é, pois, que comecemos a desenvolver a economia portuguesa pelo sector editorial:

Um exemplar do “Ultimatum Futurista” para cada português! Já!
Devidamente acompanhado, está claro, de dois prefácios: um do Vasco Graça Moura e outro do Eduardo Prado Coelho, explicativos, ambos, do que se vê hoje olhando para o “Ultimatum Futurista” (dos lados direito e esquerdo, respectivamente).

ULTIMATUM
FUTURISTA
ÀS GERAÇÕES PORTUGUESAS DO SÉC. XXI
Acabemos com este maelstrom de chá morno!
Mandem descascar batatas simbólicas a quem disser que não há tempo para a criação!
Transformem em bonecos de palha todos os pessimistas e desiludidos!
Despejem caixotes de lixo à porta dos que sofrem da impotência de criar!
Rejeitem o sentimento de insuficiência da nossa época!
Cultivem o amor do perigo, o hábito da energia e da ousadia!
Virem contra a parede todos os alcoviteiros e invejosos do dinamismo!
Declarem guerra aos rotineiros e aos cultores do hipnotismo!
Livrem-se da choldra provinciana e da safardanagem intelectual!
Defendam a fé da profissão contra atmosferas de tédio ou qualquer resignação!
Façam com que educar não signifique burocratizar!
Sujeitem a operação cirúrgica todos os reumatismos espirituais!
Mandem para a sucata todas as ideias e opiniões fixas!
Mostrem que a geração portuguesa do século XXI dispõe de toda a força criadora e construtiva!
Atirem-se independentes prá sublime brutalidade da vida!
Dispensem todas as teorias passadistas!
Criem o espírito de aventura e matem todos os sentimentos passivos!
Desencadeiem uma guerra sem tréguas contra todos os "botas de elástico"!
Coloquem as vossas vidas sob a influência de astros divertidos!
Desafiem e desrespeitem todos os astros sérios deste mundo!
Incendeiem os vossos cérebros com um projecto futurista!
Criem a vossa experiência e sereis os maiores!
Morram todos os derrotismos! Morram! PIM!
J o s é d e A l m a d a N e g r e i r o s
P O E T A
F U T U R I S T A
E
T U D O

E com sito ficam arranjados mais dois problemas para a Pátria resolver (sem falar, claro, da hipóteses de os dois ilustres publicistas acima mencionados não quererem fazer os prefácios, caso em que ficaríamos com quatro problemas).
Mas não nos antecipemos.
Por agora os problemas são dois:
a) Parece que há mais do que um Ultimato Futurista.
b) O Futurismo não era, propriamente, uma ideia democrática (ou será que isto não é um problema?)

2004-02-11

Compromisso Portugal

Vocês já repararam na imensa quantidade de textos que, tendo como objectivo comum a salvação da Pátria, foram produzidos nos últimos tempos pela classe empresarial portuguesa?
Porque é que esta gente não se dedica, antes, a modernizar as suas empresas?

Compromisso Portugal

Faltava mais esta. Ao extenso rol de candidatos a salvadores da Pátria, acrescentaram-se agora, de uma vez, seiscentos (seiscentos) empresários, gestores e universitários, todos juntos no Convento do Beato, ouvindo embevecidos esse d. sebastião económico da direita que dá pelo nome de António Borges, cujo invejável currículo se resume assim: director de uma escola em França, presidente de uma assembleia municipal eleito pelo PSD, vice-presidente de uma multinacional cujo “Nosso objetivo é fornecer retornos superiores a nossos accionistas” (tal como consta no respectivo site – tradução automática, pelo Google, do inglês), seja, uma multinacional que se está borrifando, muito de alto, para Portugal, para os portugueses, para os trabalhadores em geral e para os trabalhadores portugueses em particular.
O Sr. António Borges quer salvar Portugal mas nunca dirigiu uma empresa, nunca produziu um prego ou uma couve que fosse. Não. O seu negócio é dinheiro. Quanto mais dinheiro puder dar aos seus accionistas melhor para si. Se isso exigir o despedimento de metade de Portugal, tanto faz. Se isso exigir levar à falência metade dos empresários que o aplaudiram no Convento do Beato e o vão aplaudir nos próximos dias, um pouco por todo o país, tanto faz. Eles não são accionista da Goldman Sachs. Não é para eles que o Prof. tem de arranjar “retornos superiores”. Compromisso Portugal? É mentira. O compromisso do Prof. António Borges é com os accionistas da Goldman Sachs.

2004-02-03

Funcionários

Um funcionário público é, no imaginário do comum dos portugueses, um poltrão incompetente que não faz nem sabe.
Sempre assim foi e sempre assim será mas, há momentos, como o que agora vivemos, em que a coisa toma uma dimensão insuportável. É quando a sociedade inteira, Governo incluído, resolve fazer dos funcionários públicos o bode expiatório de todas as desgraças.
Curioso é que, para toda a gente, funcionários públicos são os outros.
Curioso é que, quando tentamos esmiuçar a coisa, ninguém é funcionário público.
Os governantes são governantes, apesar de lhes caber a eles, em primeira linha, defender a res pública, os militares são militares, os magistrados são magistrados (a Dr.ª M.ª José Morgado disse mesmo, recentemente, (cito de cor) que havia muitos magistrados a agir como funcionários públicos), os enfermeiros e médicos são enfermeiros e médicos, os professores são, naturalmente, professores, os engenheiros são engenheiros, os informáticos só sabem de informática, os investigadores investigam, os conservadores e guardas de museu dedicam a vida à Arte e a meninas da Loja do Cidadão são umas simpáticas meninas que nos atendem na Loja do Cidadão.
Estou mesmo convencido que também o tratador de cavalos da Coudelaria de Alter acha que não tem nada a ver com o assunto. Que é apenas tratador de cavalos. Isso permite-lhe, também a ele, zurzir sem dó nem piedade nos funcionários públicos.
Seria bom que alguém tentasse pôr ordem nisto.
E respondesse a esta questão simples:
De que falamos quando falamos de funcionários públicos?

Pitágoras? Conheço bem, mas não sei como se chama

Aqui há uns anos, quando andava a fazer uma casa, vi o Sr. Almerindo, mestre de obras, a marcar os alicerces.
A coisa faz-se espetando umas estacas sobre as quais se fixam umas tábuas na horizontal, onde se esticam cordéis que vão definir, com rigor, o lugar dos alicerces.
Pois o Sr. Almerindo, esticado o cordel que definia a parede mais longa e assinalado com um prego cravado na dita tábua, o local exacto do cunhal, esticou o cordel por mais 80 cm meticulosamente medidos e cravou novo prego. A partir daí e para a esquerda baixa do lado oposto àquele para onde se devia desenvolver a segunda parede que havia de fazer com a primeira um ângulo de 90º, com os mesmos modos rigorosos mediu um metro e, com o lápis, traçou um arco de circunferência na perpendicular do primeiro prego. Foi-se, de seguida ao prego cravado no lugar exacto do cunhal e, para o lado onde tinha traçado o primeiro arco, com o mesmo método mediu 60 cm e traçou, a lápis, novo arco que se foi cruzar com aquele outro que antes tinha feito.
Aí, no exacto ponto de encontro de ambos os arcos, cravou novo prego.
Passou o cordel pelos três pregos e esticou-o até ao comprimento da nova parede.
Ah! Com que então o Sr. Almerindo conhece o teorema de Pitágoras!
Não Sr. Dr. Nada disso. Isto é assim: 3 para aqui, 4 para ali, 5 para acolá e temos um ângulo recto. Se em vez de 3, 4, 5 usarmos 6, 8, 10, ou 9, 12, 15 e por aí afora, também dá.

Túneis

À acusação de que o túnel das Amoreiras estaria a ser construído ilegalmente por inexistência de estudos e projectos obrigatórios, PSL reagiu alegando que também os seus antecessores cometeram o mesmo pecado.
Ora, tal silogismo apenas pode ter uma conclusão: A de que, de futuro, todos os túneis podem ser feitos sem os estudos e projectos legalmente obrigatórios.
Esta conclusão é, obviamente, inadmissível, como qualquer um entende.
Os limites da lógica escolástica são conhecidos, relevam, frequentemente, do mero bom senso e eram, antigamente, exemplificados no manual de Filosofia do 7º ano do Liceu com o silogismo do cão: A constelação é cão. O cão ladra. Logo, a constelação ladra.
Não deixa, por isso, de ser impressionante que este tipo de argumentação primária e absoleta domine o discurso “político” e, mais grave, que de seguida e de salto se passe para o discurso moralista e sensório, segundo o qual quem antes pecou não pode apontar a outrem o mesmo pecado.
É evidente que este círculo vicioso é o alimento da impunidade geral e tem que ser rompido.
Como fez o Zé Tita quando encontrou o irmão a bater na mãe:
Pegou num cacete e partiu-lhe um braço. A mãe também batia na avó, dizia o outro no intervalo dos gemidos de dor. Pois. Mas essa cadeia tem de ser quebrada. E é agora!

2004-01-23

TSF

Não. Não estou em greve. Não estou em greve. Porque não quis estar e ninguém tem nada com isso.
Nem a Sra. Ministra tem, por isso, o direito de pensar que estou de acordo com ela. Não estou, de todo. Como lhe demonstrarei, se não antes, no dia das eleições.
Mas estar um homem a trabalhar, por opção consciente e deparar com uma notícia da TSF titulada “Função Pública, Um terço de 2003 foi passado em greve”, dá volta às tripas.
Notícia cobarde. Falsa. Manipuladora. Nojenta.
Será que a TSF se não vai retractar?
Será que o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalista vai ficar parado?
Será que ninguém vai apresentar queixa crime por divulgação de notícia falsa causadora de alarme social?
Até quando vão estes “jornalistas” de meia tijela, continuar a armar-se em virgens inocentes?
Liberdade de imprensa?
Sim. Já a defendia quando metade destes pseudo-jornalistas ainda não tinha nascido ou andava de fraldas e, por isso, não fazem idéia nenhuma do que não ter liberdade de imprensa.
Liberdade de mentir?
Não!

2004-01-16

Tiranetes

Os tiranos marcam o seu tempo e condicionam o futuro.
Os tiranetes limitam-se a tentar desgraçar a vida aos seus contemporãneos.

2004-01-15

Náusea

Os funcionários que, em 2002, ganhavam mais de € 1.000,00 por mês não tiveram aumento em 2003 e, quer o Governo e ou muito me engano ou assim será, não o terão em 2004.
Porque é que o Governo insulta os funcionários?
Pela mesmissíma simples razão que os cães lambem os órgãos genitais.
Porque pode!

2004-01-12

Viva la Féria

Na passada sexta-feira, quando regressei a casa depois de ter assitido ao My Fair Lady no Politeama, estava a dar na televisão o resumo do jogo entre o Sporting e o Guimarães.
De um lado um agradável espectáculo do qual o mínimo que se pode dizer é que é digno e profissional.
Do outro, pelo menos 5 (cinco!) cartões mostrados em situações alheias ao jogo: 1 por simulação de penalty, 2 por palavras ao árbitro, 1 por retirada da bola do local de marcação de falta, 1 por agressão sem bola.
Viva La Féria!

2004-01-07

Futebóis

Os portugueses gostam de futebol que lhes dá alegrias e gostam do Estado que esperam lhes dê tudo.
Como não há futebol sem árbitro, nem Estado sem funcionários, os portugueses inventaram esse desporto nacional que é o de assacar todas as desgraças do futebol aos árbitros e todas as desgraças do Estado aos funcionários.

Reformas

Temos, portanto, promulgada a lei que fixa a idade normal de aposentação dos funcionários públicos nos 60 anos.
O que sobre isto aconteceu nos últimos 13 meses devia envergonhar todos os portugueses.
De um lado uma solução de ilusionista tirada do chapéu do Governo. Do outro uma total ausência de idéias, um acrítico fincar de pés em supostos direitos adquiridos.
A solução do governo não tem em consideração nem as pessoas afectadas nem as necessidades do serviço público. Trata-se, tão só, de mais uma medida para equilibrar os indicadores macroeconómicos.
O finca pé dos funcionários não tem em atenção quaisquer necessidades colectivas. Trata-se, tão só, de tentar manter vantagens.
Equilíbrio dos indicadores macroeconómicos! Eis um problema cujo resolução os economicistas não esperam que afecte significativamente a seu standard de vida.
Direitos adquiridos! Eis um conceito que faz muito jeito a funcionários e a construtores civis.
E, no entanto, deveria ter havido um amplo debate sobre a questão porque, obviamente, se trata de uma questão importante.
Quatro achegas para esse debate por fazer:
a) os empregados que descontam para a Segurança Social reformam-se com quarenta anos de serviço. O que é que justifica que os portugueses não sejam, também nesta matéria, todos iguais?
b) os empregados que descontam para a Segurança Social reformam-se com 80% do vencimento. O que é que justifica que os portugueses não sejam, também nesta matéria, todos iguais?
c) a administração pública pode modernizar-se mantendo ao seu serviço os milhares de pessoas que, normalmente, se aposentariam nos próximos 4, 5 anos?
d) a sociedade pode suportar o desemprego dos milhares de jovens que, normalmente, ingressariam na função pública em substituição dos (não) aposentados?

2004-01-06

George?

A Geórgia é uma República, algures no sul da antiga URSS de que os portugueses em geral e eu em particular pouco sabem e, pelos vistos, pouco lhes interessa (ao menos a atentar que a notícia sobre os resultados das eleições presidenciais mereceu um único comentário no Sapo).
A notícia, no entanto é perturbante e devia perturbar-nos a todos.
Mikhail Saakachilli acaba de ser eleito presidente com um resultado ainda não totalmente apurado mas que cresce à medida que se avança na contagem dos votos. Já vai, ao que parece, nos 97,5%.
É certo que ainda não li nem ouvi nada que possa levar-me a pensar que as eleições não foram absolutamente livres. Mas 97,5%?
O Sr. Bush (que algumas más línguas teimam que só lá chegou através de uma chapelada eleitoral) devia estar atento e lançar, de imediato uma guerra preventiva. O homem até pode não ser, nem nunca chegar a ser, um ditador. Mas desta vez o Bush pode, sem falsificações, apoiar-se na História: No passado nunca houve nenhuma eleição livre que alguém ganhasse por tal margem. Só ditadores ( Salazar incluído – não se esqueçam) almejaram tais scores.
É claro que, mesmo que Mikhail Saakachilli venha a ser um ditador, há diferenças importantes que não podemos esquecer: Por um lado o homem é amigo dos americanos. Por outro, indo ainda mais longe que o Paulinho das feiras que também é amigo dos americanos e dos desprotegidos em geral, prometeu aos georgianos um aumento das reformas de 5 para 10 euros mensais.
Quem é o eleitor que pode resistir a tamanho amor pelo próximo?